É doce morrer no mar - Resenha Mar Morto, Jorge Amado
- Bela Medeiros
- 14 de nov. de 2020
- 2 min de leitura

É ao som dos lúgubres e arrastados lamentos de Dorival Caymmi em "É doce morrer no mar", que acompanhamos o romance entre o marinheiro Guma e sua esposa Lívia no romance Mar Morto (1936), de Jorge Amado.
Jorge Amado sempre me surpreende com sua sensibilidade ao retratar a vida do povo. Ele cria uma ambientação regada a cheiros, músicas, sabores e lendas, que quase abre um portal temporal para o leitor, que se sente andando nos cais do recôncavo baiano da década de 30.
Além de toda essa maravilhosa sinergia, Amado é sempre cirúrgico em seus panoramas sociais. Embora a obra não seja considerada um livro fortemente militante, as críticas sobre desigualdade e miséria são muito presentes, de maneira sutil e poética.
A trama se desenvolve com o contraste entre os homens do mar e os homens da terra. Para quem nasceu e viveu no cais, a morte dos marinheiros no mar é uma certeza levada com a esperança de encontrar Iemanjá, mãe das águas, nas "terras do Aiocá". As mulheres dos marinheiros já contam com essa morte e, quando ela se concretiza, resta a miséria sem o sustento do marido, que acaba levando muitas à prostituição. Lívia, esposa do protagonista Guma, é uma mulher da terra, vinda da cidade, e a morte do marido a assombra numa angústia que a corrói a cada viagem. Lívia não se conforma, não consegue enxergar a inevitável morte como um fato natural e resiste como pode para conservar seu amor.
O final é coerente, emocionante, transporta o leitor a um estado de êxtase e conformação confuso, em que a tristeza se funde à esperança.
Uma narrativa ampla, que abre o panorama para além do romance lúgubre e mostra a realidade daquele recorte histórico e geográfico, construindo um refúgio do agora e um alívio pelo avanço.
4/5 - Lido em 13/11/2020
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